segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sofrer como caminho

Estudando o mito de Eros e Psiquê, me deparei com o romance entre estes dois personagens e em como Psiquê, ao final do mito, precisa realizar várias tarefas, dadas por Afrodite, para voltar a ter o amor de Eros. Afrodite lhe dá quatro trabalhos, que terão de ser cumpridos para que tenha esse amor de volta.

Em seu último trabalho, Psiquê terá que descer ao reino dos mortos pegar um ungüento de beleza para a sogra. Ela desce aos infernos, precisa realizar a risca as instruções dadas e enfrentar vários perigos. Ao retornar a Terra, morre ao abrir o cofre que continha o ungüento, Eros sente que sua amada corria perigo, e a salva, fala com Zeus, que concorda que ela seja transformada em deusa. Psiquê, ao receber cada um dos trabalhos, se sente imóvel, se desestrutura, mas sempre consegue cumprir suas tarefas. Ela precisou passar por estes desafios para que seu desenvolvimento interior fosse completo e só assim tornou-se deusa.

O que é deixado claro aqui, é que o caminho para conseguir seu objetivo é longo e sombrio, e não somente feito de céus e brilhos. Para se alcançar o que quer, é preciso passar pela dúvida que corrói, pela tristeza e por vezes, pela sensação de perder o chão, para que depois possa encontrá-lo novamente. Apenas indo ao Hades, chegando ao fundo do poço, é que podemos retornar a Terra e viver com plenitude, inteireza.

Carregar conosco a angústia da tristeza está cada vez mais raro. Parece que devemos estar sempre alegres e sorridentes, quando isso não ocorre somos cobrados: "O que está acontecendo com você?". Temos que entender que o sofrer momentâneo também faz parte de nós, também faz parte do viver e do sentir humano.  Não se deve tirar alguém de seu sofrimento prematuramente. Digo mais, é através do sofrimento que podemos olhar para dentro, nos interiorizar, e somente depois levantar e ir ainda mais adiante.