terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Submundo das Princesas Disney e Perséfone: Achou que fosse somente rosa?

Você já parou para se perguntar o porquê as princesas da Disney tiveram histórias tão trágicas? Maça envenenada, destrato por parte da madrasta e das meia-irmãs, ficar trancafiada no calabouço sozinha. Tinham uma vida feliz no campo e ao lado de seus pais para de repente serem envolvidas pela fumaça escura do mal. Pobrezinhas...
A deusa Perséfone, que os romanos chamavam de Prosérpina ou Core é filha de Deméter (já falamos dela aqui, se quiser saber um pouquinho mais vá para – Síndrome do ninho vazio e Deméter: imagens de pais nos quartos desocupados de seus filhos.) e Zeus.
Perséfone sempre foi cuidada por sua mãe, era esta quem dizia o que deveria fazer e quando fazer. A jovem ainda não sabe quem ela é e fica inconsciente de seus desejos e forças; por ser bastante indecisa, vive esperando que alguma coisa ou alguém transforme sua vida. Como filha, esta deusa só quer agradar sua mãe, ser uma boa menina, ser educada, obedecê-la e respeitá-la acima de tudo. Apesar de ser muito bonita, ainda não se vê como mulher e é provável que sua mãe a ache nova demais para namorar e não aceite o cortejo dos homens.
Como com as princesas Disney, Core é uma filha exemplar, inocente colhe flores no jardim. De modo parecido como acontece nos desenhos, no mito da deusa ela é brutalmente raptada por alguém do submundo. A Cinderella caiu nas garras da madrasta, Branca de Neve na lábia do lobo mal, João e Maria no porão da bruxa de doces e, Core, no inferno de Hades.
Parece que essas doces princesas são arrancadas de seu mundo infantil através de uma experiência com o mundo escuro. No mito de Perséfone não foi diferente. Sua história foi a seguinte:
Core foi roubada por Hades enquanto passeava nas campinas e levada para o submundo. Sua mãe, Deméter, ficou desolada e a procurou por todo o Olimpo, como era Deusa da agricultura e do cereal, a terra começou a ficar infértil e estéril, pois ela não tinha tempo para cuidar de seus afazeres enquanto buscava sua filha. Zeus vendo que ficariam sem alimento, conta a Deméter sobre o paradeiro de sua filha e esta descobre sobre Hades. Hermes é incumbido de descer até os infernos e trazer Core de volta.  Chegando lá encontra Core desolada, faz um acordo com Hades e ele a deixa partir, antes, contudo oferece a jovem algumas sementes de romã e ela as come. Por ter comido algo, conclui-se que não tinha rejeitado Hades por completo e assim estabeleceu-se um acordo que ela ficaria parte do ano no submundo quando seria Perséfone e o restante com seus pais, quando seria a jovem Core.  
Com a visita ao submundo, parece que Core dá vida a uma outra dentro dela, era dependente e indecisa, mas antes de sair da escuridão faz uma escolha por si-mesma alimentando-se e nutrindo-se de sua outra parte, da semente que o rei do inferno lhe ofereceu. Passa assim a sair do colo integral de sua mãe para seguir seu caminho sombrio como rainha.
            Tanto as princesas como Core tiveram que cair da dualidade mãe-filha para aprender um pouco sobre o mundo da terra. Enquanto protegidas pela arredoma familiar, pouca coisa a penetra. Com um movimento de inteireza é arrancada da indiferenciação infantil e colocada em um lugar de sujeito encarnado.
No “mundo real” deve-se aprender a estabelecer e cumprir compromissos e viver de acordo com eles, cumprir prazos, satisfazer prazos de entrega, permanecer em um emprego, tarefas estas que são difícil para a criança que quer colo e que brinca na vida.
            O “feliz para sempre” fica próximo da verdade quando o caminho é essência. Esse ditado só fica completo quando entendemos que ele está falando da plenitude, da inteireza. E o inteiro não é feito só de ‘parte’ boa, e sim da mistura do bom e do mal, do mundo superior e inferior, dos céus e dos infernos.




Referência: 
Bolen, J. S. As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. São Paulo: Paulus, 1990.