Você já parou para se perguntar o porquê as
princesas da Disney tiveram histórias tão trágicas? Maça envenenada, destrato
por parte da madrasta e das meia-irmãs, ficar trancafiada no calabouço sozinha.
Tinham uma vida feliz no campo e ao lado de seus pais para de repente serem
envolvidas pela fumaça escura do mal. Pobrezinhas...
A deusa Perséfone, que os romanos chamavam de
Prosérpina ou Core é filha de Deméter (já falamos dela aqui, se quiser saber um
pouquinho mais vá para – Síndrome do ninho vazio e Deméter: imagens de pais nos quartos desocupados de seus filhos.) e Zeus.
Perséfone sempre foi cuidada por sua mãe, era
esta quem dizia o que deveria fazer e quando fazer. A jovem ainda não sabe quem
ela é e fica inconsciente de seus desejos e forças; por ser bastante indecisa,
vive esperando que alguma coisa ou alguém transforme sua vida. Como filha, esta
deusa só quer agradar sua mãe, ser uma boa menina, ser educada, obedecê-la e
respeitá-la acima de tudo. Apesar de ser muito bonita, ainda não se vê como
mulher e é provável que sua mãe a ache nova demais para namorar e não aceite o
cortejo dos homens.
Como com as princesas Disney, Core é uma
filha exemplar, inocente colhe flores no jardim. De modo parecido como acontece
nos desenhos, no mito da deusa ela é brutalmente raptada por alguém do
submundo. A Cinderella caiu nas garras da madrasta, Branca de Neve na lábia do
lobo mal, João e Maria no porão da bruxa de doces e, Core, no inferno de Hades.
Parece que essas doces princesas são
arrancadas de seu mundo infantil através de uma experiência com o mundo escuro.
No mito de Perséfone não foi diferente. Sua história foi a seguinte:
Core foi roubada por Hades enquanto passeava
nas campinas e levada para o submundo. Sua mãe, Deméter, ficou desolada e a
procurou por todo o Olimpo, como era Deusa da agricultura e do cereal, a terra
começou a ficar infértil e estéril, pois ela não tinha tempo para cuidar de
seus afazeres enquanto buscava sua filha. Zeus vendo que ficariam sem alimento,
conta a Deméter sobre o paradeiro de sua filha e esta descobre sobre Hades.
Hermes é incumbido de descer até os infernos e trazer Core de volta. Chegando lá encontra Core desolada, faz um
acordo com Hades e ele a deixa partir, antes, contudo oferece a jovem algumas
sementes de romã e ela as come. Por ter comido algo, conclui-se que não tinha
rejeitado Hades por completo e assim estabeleceu-se um acordo que ela ficaria
parte do ano no submundo quando seria Perséfone e o restante com seus pais,
quando seria a jovem Core.
Com a visita ao submundo, parece que Core dá
vida a uma outra dentro dela, era dependente e indecisa, mas antes de sair da
escuridão faz uma escolha por si-mesma alimentando-se e nutrindo-se de sua
outra parte, da semente que o rei do inferno lhe ofereceu. Passa assim a sair
do colo integral de sua mãe para seguir seu caminho sombrio como rainha.
Tanto as
princesas como Core tiveram que cair da dualidade mãe-filha para aprender um
pouco sobre o mundo da terra. Enquanto protegidas pela arredoma familiar, pouca
coisa a penetra. Com um movimento de inteireza é arrancada da indiferenciação
infantil e colocada em um lugar de sujeito encarnado.
No “mundo real” deve-se aprender a
estabelecer e cumprir compromissos e viver de acordo com eles, cumprir prazos,
satisfazer prazos de entrega, permanecer em um emprego, tarefas estas que são
difícil para a criança que quer colo e que brinca na vida.
O “feliz
para sempre” fica próximo da verdade quando o caminho é essência. Esse ditado
só fica completo quando entendemos que ele está falando da plenitude, da
inteireza. E o inteiro não é feito só de ‘parte’ boa, e sim da mistura do bom e
do mal, do mundo superior e inferior, dos céus e dos infernos.
Referência:
Bolen, J. S. As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. São Paulo: Paulus, 1990.