Harry Potter foi um bruxo muito conhecido,
seu primeiro livro foi lançado em 1997 (no Brasil, 1999). Foi um personagem que
encantou crianças e adolescentes, demonstrando que a geração joystick também se
dava bem com a letra impressa, o que faltava mesmo era uma ficção tão
intrigante a ponto de ser devorada pelos leitores mirins.
Difícil encontrar alguém que não conheça
Harry, mas para aqueles que não tiveram a oportunidade de lê-lo, lá vai um
pequeno resumo:
Harry é filho de um casal de bruxos
corajosos. Sua mãe era bruxa, filha de pais trouxas (denominação para aqueles
que não tinham o dom da bruxaria), e seu pai vinha de uma família de puro
sangue. A trama acontece principalmente por uma disputa política, em que o
vilão Lord Voldemort quer a qualquer custo impor suas modalidades de
funcionamento autoritárias, bélicas e perversas. Seus seguidores se utilizam de
assassinato, injustiça e muito jogo sujo para conseguir chegar ao poder. Quando
Harry era bebê, seus pais foram assassinatos por Voldemort. O vilão foi até a
casa dos Potter com o objetivo de matar a criança, pois existia uma profecia
que dizia que Harry e Voldemort não poderiam coexistir, ou seja, um dos dois
deveria morrer para que o outro pudesse viver. Acontece que ao lançar um
feitiço para matar o protagonista, algo errado aconteceu. Os pais de Harry
morreram tentando protegê-lo e o feitiço lançado voltou-se contra Voldemort,
que ficou muito fraco a ponto de quase sumir. No bebê-Potter restou uma pequena
cicatriz em formato de raio na testa e em tal marca a ligação entre os dois se
concretiza.
Harry, órfão, é então cuidado pela família da
tia, todos trouxas. Não sabendo de sua linhagem bruxa até o final de sua
infância, ele vive uma vida normal. A saga começa no aniversário de 11 anos de
Harry, em que recebe uma carta da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts para
iniciar seus estudos. Ao todo são 7 livros, um para cada ano na escola.
Toda a história é repleta de seres
fantásticos, fotos que se movimentam, feitiços para consertar num toque braços e
ossos quebrados, campeonatos de Quadribol – o esporte dos bruxos, espelhos que
refletem desejos.
E em cima deste ultimo item mágico é que
vamos nos debruçar. O Espelho de Ojesed. Corso (2006), narra brevemente
como foi a descoberta do espelho:
Potter corria pela escola, fugindo de alguma
das peripécias que tinha aprontado e oculto por uma capa que o tornava
invisível. Quando entrou num aposento, uma sala de aula abandonada, deparou-se
com um objeto que parecia discordar do contexto: um majestoso espelho de
moldura dourada. Ainda invisível, ele viu o reflexo de sua imagem e de umas dez
pessoas, que logo concluiu serem seus pais acompanhados dos parentes bruxos de
linhagem paterna, de quem crescera afastado, aquela família que perdeu com a
morte de seus pais. De dentro do espelho, uma mulher, sua mãe, lhe abanava
simpaticamente. Triste, constatou que “Ela e os outros só existiam no espelho”.
E correu para chamar seu amigo Rony, que viu no espelho uma cena totalmente
diferente: estava refletido seu futuro como chefe dos monitores e capitão do
time de quadribol de Hogwarts.
Ojesed quer dizer “desejo” ao contrário.
A palavra invertida faz alusão a inversão da imagem. Harry vê refletido não sua
aparência, mas seu desejo de essência. De fora para dentro. De dentro para
fora.
Quais
são os momentos em que nos deparamos com essa imagem refletida? Ou o que a
reflete para nós? São espelhos mágicos, amigos sinceros e psicólogos em seus
consultórios... Naquela palavra, naquela frase, naquela rua e naquele tempo,
encontramos a imagem refletida. Conseguimos então olhar por detrás dela? Ou
continuamos rasos e espelhados pela aparência de fora: alto, baixo, gordo,
magro, triste, depressivo, melancólico. O que existe dentro desse corpo? Quais
os desejos dessa alma?
A autora
oferece as crianças à possibilidade de reflexão. Ao estar frente a frente
consigo mesmo, o que se torna mais importante? O maior segredo que cada um de
nós carrega na alma vem a tona quando as aparências se tornam invisíveis.
Referências:
Corso, D. L.; Corso, M. Fadas no Divã: Psicanálise nas histórias infantis. São Paulo: Artmed, 2006.