O momento histórico em que vivemos não abre espaços para
as vivências de dor. A todo o momento a felicidade é cultuada e a tristeza
guardada a sete chaves no fundo do porão; tentamos passar o mais longe possível
de tudo o que possa nos fazer sofrer. Grita-se aos ventos o quão feliz somos:
será que convencendo aos outros, estamos tentando convencer a nós mesmos?
O
trabalho de se estar sempre em um dos polos da vida, na felicidade ou na
tristeza, vai nos tornando cada vez mais rígidos e petrificados, como se não
houvesse mais, ou como se não pudesse haver mais, espaço para o outro oposto.
Como se pessoas muito tristes e deprimidas não tivesse mais espaço no coração
para gotinhas de felicidade. Ou como se pessoas felizes, alegres e contentes
não pudessem perder tempo chorando suas chateações.
Diz-se
que o verdadeiro princípio de nosso trabalho como terapeuta é de dissolver a
pedra, tornando mais fluidos e leves os processos individuais. Isso por que
corpos dissolvidos assumem a natureza de espíritos, ou seja, com a “dissolução”
do corpo, presenciamos a coagulação do espírito.
Como
agente de dissolução, pensamos na água. E como parte do processo analítico, a
“água” que é produzida dentro do
consultório do analista, as lágrimas.
Segundo
Capriotti (2008), o choro pode ter dois sentidos, a dissolução de resistências
e de couraças rígidas, quando podemos nos demonstrar fluidos ou a dissolução de
tudo sob a forma de lágrima, quando nos encharcamos e nos submergimos. Há o
choro que lava, purifica e fertiliza, o choro que traz renascimento.
No
choro vamos elaborando as nossas questões íntimas. Muitas vezes o chorar é ruim
e amargo e uma vez que estamos tratando da dissolução de certezas. Porém,
muitas vezes sentimos prazer no choro, dizemos “saí de alma lavada”. E saiu
mesmo! As lágrimas tem a função de limpeza dos olhos, mas tem também a função
de limpeza da alma (CAPRIOTTI, 2008).
Ainda
segundo a mesma autora, citando Lutz (1999) nos traz: “não é que nossas
emoções, sem encontrar saída na ação, são reduzidas a lágrimas, mas sim que
certas emoções encontram sua saída perfeita nas lágrimas”.
Aqueles que choram são os mais corajosos e
bravos, aceitaram o desafio de encarar a vida como ela de fato é, cheia de
alegrias, mas também de tristezas. Encararam seu processo individual,
transformando seus muros em rios passageiros.
CAPRIOTTI, L. Multiplicidade de Lágrimas: o
choro e suas diferentes nuances. Cadernos
Junguianos, São Paulo, n. 4, 2008.