terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A deusa Hera e a fatídica pergunta de fim de ano: e os namoradinhos?

Estudando o arquétipo da deusa Hera na psicologia das mulheres, me deparei com o seguinte pensamento: É cobrança da sociedade andarmos apenas aos pares ou as pessoas só podem realmente ser completas quando encontram a sua “cara-metade”?
Sabemos que nas gerações passadas, em uma cultura predominantemente patriarcal, o que era esperado de uma mulher era a de que ela se casasse e tivesse filhos o mais cedo quanto fosse possível. Essa era a sua principal ocupação. Casamento, ser uma boa esposa e cuidar de seu marido. Parir, ter filhos saudáveis, capazes de trabalhar e terem filhos no futuro. E o mais interessante, mesmo dentro de um casamento que não a satisfazia, ela não via outro caminho. Talvez a dor da crítica social fosse mais dolorida do que permanecer num lugar onde já não mais cabia. Não ser esposa aos até 30 anos, era sinônimo de que a mulher não havia cumprido seu papel, e por isso era vazia, perdia seu valor. A mulher Hera recebia então o maior apoio, pois o desejo interno de ser esposa encontrava lugar externo e era exatamente o que esperavam que ela fizesse. Esse é o chamado de Hera, de ser companheira, fiel e leal até o fim com seu marido e isso a faz forte e completa. O feminino visitado por essa deusa encontrava seu lugar.
Nos anos atuais, mudamos um pouco em relação aos lugares que as mulheres ocupam e querem ocupar. A sociedade ainda é patriarcal, mas não podemos negar que perdeu um pouco de sua força. Temos direito a várias coisas e podemos escolher o lugar que queremos ocupar, seja de esposa, de mãe, de profissional. O caminho que antes era traçado para nós e imposto passa a ser uma escolha mais branda e mais personalizada.
É permitido escolher vários caminhos. Casar ou não. Ter filhos ou não. Casar-se aos 25 ou aos 45. Viver sozinha, ou acompanhada. Escolher seu parceiro ou parceira pelo amor e não pela posição de sua família. Claro que para alguns certas escolhas são vistas com olhos julgadores, mas as mulheres estão mais fortes e mais seguras para lidar com tais atitudes. Porém podem sentir-se pressionadas pelas expectativas culturais de se estabeleceram e se casarem.
Inevitavelmente são alvos de perguntas do tipo:
            “Que bom, você tem um ótimo emprego, mas quando vai se casar?”
            “Foi promovida? Que notícia boa, e o marido quando vai vir?”
            “Seu casamento foi lindo, vai encomendar bebês?”
            “Esse peru de natal está delicioso, mas e os namoradinhos?”

            Conseguimos respeitar uma mulher que vive bem só ou ela só é vista quando tem um homem ao seu lado? Defendo a idéia de que a escolha de ter alguém a acompanhando seja dela, que seja uma escolha própria e mais consciente possível.
            Hera vem para nos mostrar que é possível ser feliz no casamento, e que casar pode ser o desejo mais genuíno e verdadeiro da pessoa. Mas e se não for? Se ela decidir esperar mais um pouco, ou simplesmente seguir a jornada da vida desacompanhada de namorados/maridos/afins? Ela estará incompleta ou pelo contrario, será sua forma mais completa possível, enchendo-se aquilo que é essência?
            O sentimento de completude só vem acompanhado de decisões verdadeiramente internas.
             “Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu coração.” (C. G. Jung)



Referência: Bolen, J. S. As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. São Paulo: Paulus, 1990.