terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Que país é esse? Crise econômica e origem do povo brasileiro

É de conhecimento de todos a atual situação político-econômica do Brasil. O momento é de tensão. Amizades desfeitas e grandes discussões na mesa de jantar sobre se é ou não golpe. As opiniões se dividem e parece que não conseguimos chegar a um equilíbrio um pouco mais saudável quando se trata deste assunto.
Mais do que discutir aqui se as ações dos governantes estão sendo eficazes ou não, se o governo é legítimo ou não ou quem é mesmo o grande vilão dessa história toda, fico com uma grande dúvida: Será que o Brasil não tem jeito?
Percebemos que por alguns momentos o povo se dividiu, proferiu palavras de ódio uns aos outros e vestiu a camisa de um lado. Mas me parecia que todos no fundo aspiravam pela mesma coisa: uma vida melhor dentro do próprio país.
Diante de toda esse caos que o Brasil está passando, sincronicamente comecei a ler o livro “Espelho índio – a formação da alma brasileira” do analista junguiano Roberto Gambini.
E então passei a refletir um pouco sobre a origem do povo do Brasil.
Aprendemos na escola que nosso país foi descoberto em 1500 quando os europeus chegaram até Porto Seguro acreditando estarem nas Índias. Mas precisamos antes de tudo nos questionar: se já haviam pessoas aqui, como é que uma coisa pode ser dita “descoberta”? O termo correto deveria ser invasão ou então simplesmente chegada. Mas o termo “descobrimento” se infiltrou e se estabeleceu na nossa linguagem de uma forma até poética: Navegadores heroicos chegaram a um território desconhecido e bravamente povoaram as terras virgens...
Esquecemos-nos dos índios que estavam ali vivendo. As terras foram apossadas sem se questionarem se os índios eram os legítimos filhos dela. Para esses europeus, a raça indígena era mera peça de cenário, desprovidos de qualquer direito, “até mesmo de continuar sendo o que sempre haviam sido” (Gambini, 2000).
A idéia de que aqui era o paraíso celeste também ficou muito forte. Pelas belezas naturais de suas praias, luminosidade, clima. Mas o paraíso não é só paraíso por conta da beleza, o Brasil era calmo, tranquilo e inclusive a voluptuosidade das mulheres nuas provocaram nos portugueses as mais deliciosas fantasias. E é ai que o povo brasileiro tem a sua origem.
Segundo as palavras de Gambini:

O desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de batismo, como o é também a posse da mulher índia pelo branco invasor, de cujo acasalamento resulta, nas reveladoras palavras de Darcy Ribeiro, a protocélula do povo brasileiro: a criação de um híbrido que nunca saberá quem é, por que nem pai e nem mãe lhe servirão de espelhos ou modelos de identidade.

            Nossa origem nos deixa órfãos desde o início. Essa pequena criança é diferente de seu pai por ter traços índios, e é diferente de sua mãe por ter características européias. “O começo do povo brasileiro é o começo do sim da alma ancestral da terra.” (Gambini, 2000).
            Sabemos então que nossa origem, a origem de brasileiro, carrega primeiramente uma mistura. Ficamos na nossa terra, mas desaprendemos a respeitá-la. Ficamos com a mãe-índia em seu lar, mas seguimos os ensinamentos do pai-português-invasor. Uma bagunça total.
            Queremos ser algo que genuinamente não somos. Imitamos, pois foi isso que nos ensinaram, mas não paramos para ouvir o que nossos sentidos realmente diziam.
            Queremos ser como eles, mas somos daqui. Dessa terra e desta natureza.



Referências:

Gambini, R. Espelho índio – A formação da alma brasileira. São Paulo: Axis Mundi, 2000.