Como gostaríamos que todos os nossos problemas fossem
resolvidos com um único clique de celular. Como se a vida fosse uma tela
touchscreen e pudéssemos fazer todos os ajustes necessários virtualmente e sem
se envolver. Acontece que a vida é o que está do lado de fora do quadrado
iluminado, seja ele do celular, computador ou televisão.
Para
suportarmos a dor de viver – e isso exige muita energia de nós mesmos –
precisamos gostar de onde estamos, porque é de dentro de nós mesmos que atuamos
e agimos sobre o mundo. Acho que a palavra é empatia, precisamos praticar a “auto-empatia”.
Algumas
de nossas emoções são perceptíveis no corpo. Quando estamos com medo, nosso
coração bate acelerado, as mãos ficam frias, os olhos esbugalhados. O corpo
mostra para nós o que sentimos e identificar os sentimentos, nomeá-los e
entender aquilo que o que passa por dentro chama-se medo, facilita o
conhecimento que temos de nós mesmos. E quando mais nos conhecemos mais
inteiros ficamos, mais simpáticos e empáticos ficamos conosco.
Para
passarmos pelo processo do auto-conhecimento precisamos gastar nosso tempo. É
vivendo – fora das telas – que o processo acontece. É difícil descrever ou
prever o gosto da fruta antes de prová-la, podemos explicar e buscar
comparações, mas é só com a fruta na boca que teremos a sensação do que ela
realmente é. O mesmo acontece com a vida, é só vivendo que entendemos o que ela
significa.
O tempo
e a empatia andam de mãos dadas. Com a superação e o entendimento daquilo que
está se passando nos tornamos empáticos, mas é um exercício que exige paciência
e experiência.
A
empatia comigo mesmo exerce um papel importante quando olho para minha própria
vida: uma empatia posterior, que estabelece um contato emocional com o nosso
passado, com aquele que realmente aconteceu. De repente, entendemos como
conseguimos superar determinadas situações, determinados desafios. Ou reconhecemos
que, durante muitos anos, enfrentamos corajosamente determinados medos, que
tivemos a coragem de não fugir do medo. Posteriormente, reconhecemos nosso
mérito, lamentamos as dificuldades, mas somos gratos por termos lidado com
aquilo daquela forma (Kast, V. p.33).
Quando praticamos a auto-empatia, fazemos as pazes com
nosso interior e entendemos que naquele dado momento foi tudo o que demos conta
de fazer. Com o entendimento do momento e do tempo que levamos para maturar
certos sentimentos e emoções, ficamos mais plenos e mais completos por
compreender que é somente desse jeito e não através de ensaio ou especulação
que nos tornamos nós mesmos.
Referências:
KAST, V. A alma precisa de tempo. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.