Filha de Zeus e Leto, irmã gêmea de Apolo, Ártemis,
também conhecida como Diana pelos romanos é a deusa da caça e da lua.
Ártemis é uma deusa virgem. Virgem por que é
uma-em-si-mesma, não precisa satisfazer e nem ser aprovada pelo outro, ela é o que
é. Este é um aspecto da mulher que não pertence ao homem, ela é “impenetrável”,
ou seja, não necessita de um homem e nem precisa ser aprovada por ele. Existe
em uma vida independente deles e em seu próprio direito. O termo “virgem”
significa o não cultivado, o não usado, o intocável e não manejado pelo homem.
As deusas virgens, são divindades que nunca se casaram, nunca foram dominadas,
seduzidas ou violadas pelo sexo masculino.
Uma mulher identificada com essa deusa tem a
sensação de sentir-se completa sem um homem, com isso ela pode se dedicar ao
trabalho e a seus interesses sem precisar da aprovação masculina.
Ártemis representa as qualidades
idealizadas pelo movimento feminista – empreendimento e competência,
independência dos homens e das opiniões masculinas, e preocupações pelos
atormentados, pelas mulheres fracas e pelas jovens (Bolen, 1990).
Um fato
interessante sobre esta deusa é que sobre ela há o enfoque da lua, da natureza.
Sob o clarão da lua, a paisagem é silenciosa, bonita e muitas vezes misteriosa;
o luar se comunica com ela e Ártemis se torna parte daquilo, esta de olhos
abertos para a comunicação de si-mesma a partir da comunicação com o cenário
selvagem. Quando caminha pela floresta, e penetra fundo nela, está caminhando
também interiormente, através da selva que existe em todas nós. E esse pode ser
o valor mais profundo de tal experiência.
As
características de uma mulher-Ártemis aparecem desde cedo, quando um bebê é
mais ativo do que passivo, quando a pessoa se concentra de modo poderoso sobre
uma dada tarefa, quando há um desejo por explorar novos territórios. É firme a
respeito de suas causas e princípios, normalmente vinda de uma família que
favorecem os filhos homens, não aceitam pequenas tarefas. Como diz a autora
citada acima, “a feminista em flor é vista como a pequena irmã que exige
igualdade”.
Não
podemos nos esquecer que Ártemis tinha um irmão, Apolo, que era seu complemento
masculino. Enquanto ela era lua, ele era sol; ela os animais selvagens, ele
rebanho domesticado; ela selva, ele cidade; ela dança de rodas nas montanhas,
ele deus da música. Como seu lado masculino, as relações com homens para
mulheres tipo Ártemis são baseados nessa díade, sejam eles maridos, amigos ou
colegas. Ela se afasta de relacionamentos em que o homem seja o centro das
atenções, como tem um traço forte psicologicamente, sente-se ridícula fazendo o
papel de “pequena mulher”.
Podem ter uma forte ligação quando cultuam
interesses em comum, como caminhadas ao ar livre de mãos dadas, ou quando ambos
os parceiros são corredores e praticantes de esportes radicais; ela gosta de
partilhar dos momentos juntos e se não puder fazer isso com o parceiro perderá
algo de essencial nessa relação. Importante: para que esse relacionamento tenha
algo de profundo ou um elemento sexual, é importante que outra deusa esteja
visitando essa mulher, Afrodite (falaremos nos próximos artigos).
O tipo mais comum de homem que se sente
atraído por mulheres deste tipo, vê nela uma parceira dentro si mesmo, como se
ela tivesse um lado não desenvolvido dele, podem ser chamados pelo espírito
independente e afirmativo, pela força de vontade existente nela e que nele
ainda falta. Porém, é preciso que haja um elemento de “caça” para essa mulher.
Se ele quiser tornar-se dependente dela, está tudo acabado, ela pode perder o
interesse e até sentir desprezo por ele, se por caso demonstrar “fraqueza” por
precisar dela. Pode ocorrer um problema ai, a mulher que se torna tão
identificada com o arquétipo desta deusa, pode acreditar ser tão independente
que nega sua necessidade e vulnerabilidade diante de outros.
A distância emocional é uma característica
dela, ela se vê tão concentrada em seus próprios objetivos, que não nota os
sentimentos que estão ao seu redor; como consequência disso, aqueles a sua
volta que gostariam de se envolver com ela, sentem-se desprezados e
insignificantes e ficam zangados e magoados. Claro que ela deve tomar
consciência desse padrão de comportamento, mas se esses outros tiverem paciência
e souberem esperar até que ela esteja disponível para eles, terão uma grande
companheira. É da personalidade da deusa desaparecer floresta adentro, e
aparecer apenas quando julgou ter terminada a sua caçada. Como essa distância
emocional é consequência de sua intensa concentração, um desejo sincero de
permanecer ao lado dela pode abrandar essa característica.
Se, como dito acima, o conhecimento de
Afrodite estiver a favor desta mulher, ela poderá voltar-se para seu interior e
experienciar uma forte completude. Por mais satisfatória de tenha sido suas
conquistas, faltará o elemento do amor, e sem ele seu desenvolvimento será
unilateral. Com o instinto fértil de Afrodite abre-se caminho para a
possibilidade da totalidade.
Referência: Bolen, J. S. As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. São Paulo: Paulus, 1990.