terça-feira, 15 de setembro de 2015

Qual deusa te visita? Um pouco sobre a caça da deusa Ártemis.

          Filha de Zeus e Leto, irmã gêmea de Apolo, Ártemis, também conhecida como Diana pelos romanos é a deusa da caça e da lua.
Ártemis é uma deusa virgem. Virgem por que é uma-em-si-mesma, não precisa satisfazer e nem ser aprovada pelo outro, ela é o que é. Este é um aspecto da mulher que não pertence ao homem, ela é “impenetrável”, ou seja, não necessita de um homem e nem precisa ser aprovada por ele. Existe em uma vida independente deles e em seu próprio direito. O termo “virgem” significa o não cultivado, o não usado, o intocável e não manejado pelo homem. As deusas virgens, são divindades que nunca se casaram, nunca foram dominadas, seduzidas ou violadas pelo sexo masculino.
Uma mulher identificada com essa deusa tem a sensação de sentir-se completa sem um homem, com isso ela pode se dedicar ao trabalho e a seus interesses sem precisar da aprovação masculina.
Ártemis representa as qualidades idealizadas pelo movimento feminista – empreendimento e competência, independência dos homens e das opiniões masculinas, e preocupações pelos atormentados, pelas mulheres fracas e pelas jovens (Bolen, 1990).

            Um fato interessante sobre esta deusa é que sobre ela há o enfoque da lua, da natureza. Sob o clarão da lua, a paisagem é silenciosa, bonita e muitas vezes misteriosa; o luar se comunica com ela e Ártemis se torna parte daquilo, esta de olhos abertos para a comunicação de si-mesma a partir da comunicação com o cenário selvagem. Quando caminha pela floresta, e penetra fundo nela, está caminhando também interiormente, através da selva que existe em todas nós. E esse pode ser o valor mais profundo de tal experiência.
            As características de uma mulher-Ártemis aparecem desde cedo, quando um bebê é mais ativo do que passivo, quando a pessoa se concentra de modo poderoso sobre uma dada tarefa, quando há um desejo por explorar novos territórios. É firme a respeito de suas causas e princípios, normalmente vinda de uma família que favorecem os filhos homens, não aceitam pequenas tarefas. Como diz a autora citada acima, “a feminista em flor é vista como a pequena irmã que exige igualdade”.
            Não podemos nos esquecer que Ártemis tinha um irmão, Apolo, que era seu complemento masculino. Enquanto ela era lua, ele era sol; ela os animais selvagens, ele rebanho domesticado; ela selva, ele cidade; ela dança de rodas nas montanhas, ele deus da música. Como seu lado masculino, as relações com homens para mulheres tipo Ártemis são baseados nessa díade, sejam eles maridos, amigos ou colegas. Ela se afasta de relacionamentos em que o homem seja o centro das atenções, como tem um traço forte psicologicamente, sente-se ridícula fazendo o papel de “pequena mulher”.
Podem ter uma forte ligação quando cultuam interesses em comum, como caminhadas ao ar livre de mãos dadas, ou quando ambos os parceiros são corredores e praticantes de esportes radicais; ela gosta de partilhar dos momentos juntos e se não puder fazer isso com o parceiro perderá algo de essencial nessa relação. Importante: para que esse relacionamento tenha algo de profundo ou um elemento sexual, é importante que outra deusa esteja visitando essa mulher, Afrodite (falaremos nos próximos artigos).
O tipo mais comum de homem que se sente atraído por mulheres deste tipo, vê nela uma parceira dentro si mesmo, como se ela tivesse um lado não desenvolvido dele, podem ser chamados pelo espírito independente e afirmativo, pela força de vontade existente nela e que nele ainda falta. Porém, é preciso que haja um elemento de “caça” para essa mulher. Se ele quiser tornar-se dependente dela, está tudo acabado, ela pode perder o interesse e até sentir desprezo por ele, se por caso demonstrar “fraqueza” por precisar dela. Pode ocorrer um problema ai, a mulher que se torna tão identificada com o arquétipo desta deusa, pode acreditar ser tão independente que nega sua necessidade e vulnerabilidade diante de outros.
A distância emocional é uma característica dela, ela se vê tão concentrada em seus próprios objetivos, que não nota os sentimentos que estão ao seu redor; como consequência disso, aqueles a sua volta que gostariam de se envolver com ela, sentem-se desprezados e insignificantes e ficam zangados e magoados. Claro que ela deve tomar consciência desse padrão de comportamento, mas se esses outros tiverem paciência e souberem esperar até que ela esteja disponível para eles, terão uma grande companheira. É da personalidade da deusa desaparecer floresta adentro, e aparecer apenas quando julgou ter terminada a sua caçada. Como essa distância emocional é consequência de sua intensa concentração, um desejo sincero de permanecer ao lado dela pode abrandar essa característica.

Se, como dito acima, o conhecimento de Afrodite estiver a favor desta mulher, ela poderá voltar-se para seu interior e experienciar uma forte completude. Por mais satisfatória de tenha sido suas conquistas, faltará o elemento do amor, e sem ele seu desenvolvimento será unilateral. Com o instinto fértil de Afrodite abre-se caminho para a possibilidade da totalidade. 


Referência: Bolen, J. S. As Deusas e a Mulher: nova psicologia das mulheres. São Paulo: Paulus, 1990.