segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O tempo que foi e não volta

O término de um ciclo. De um ano. É comum ouvirmos, ainda mais nessa época, que os dias passaram rápido demais.
É comum ouvirmos que lá se foi mais um ano, e que muitos nem viram passar.
Que os dias se foram, que a semana voou, que o mês acabou e que o ano já se foi.

Quintana nos ajuda a refletir sobre o tempo que foi e não volta:

"O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado... Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará."


2015, seja bem-vindo!

Que você traga a coragem e valor do olhar para as coisas que foram e não voltam mais, mas principalmente que você traga o sorriso da espera das coisas que ainda estão por vir. E nos leve a caminhar pelo tempo, o tempo que for necessário.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Confundimos a idéia de amor

A monja Tenzin Palmo dialoga e descreve de forma bastante bonita o quanto nós, em nossas relações, confundimos a idéia de amor com apego.
Diz que talvez a maioria de nós nunca tenha amado de verdade, que a maioria dos sentimentos que temos pelos outros é apenas uma forma de apego.
Quando conhecemos alguém, primeiro projetamos nessa pessoa toda a maravilha e os sonhos que existem em nós mesmos. Na realidade começamos a nos apaixonar pela imagem que fizemos desta pessoa e não por ela realmente. Com o passar do tempo nos tornamos próximos e conhecemos de fato aquilo que o outro é. E é ai que começam os problemas.
Esperamos que o outro supra todo o bem estar e a felicidade que esperamos, como se isso fosse responsabilidade dele. Queremos que o outro nos faça feliz, esquecendo que “ser feliz” é uma condição pessoal, ou seja, que apenas nós mesmos podemos causar em nós.
Tenzin conta que a relação fica difícil quando esperamos que o outro esteja lá por nós, que nos faça pleno e seguros. Prendemos alguém achando que é esta a forma correta de demonstrar o quanto nos importamos, esquecendo que desta maneira estamos apenas mostrando o tamanho do nosso próprio medo de sofrer.

De forma simples e cativante, a monja fala sobre o nosso egoísmo e imaturidade diante de um sentimento tão completo que é o amor.

“O problema é que nós sempre confundimos a ideia de amor, com apego.
Sabe, nós imaginamos que o apego e o agarramento que temos em nossas relações demonstram que amamos, quando na verdade é apenas apego, que causa dor.
Porque quanto mais nos pegamos, mais temos medo de perder. E então, se de fato perdemos, vamos sofrer.
O apego diz: 'Eu te amo, por isso quero que você me faça feliz'.
E o amor genuíno diz: 'Eu te amo, então quero que você seja feliz. Se isso me incluir ótimo, se não me incluir, eu só quero que você seja feliz'.
É, portanto, um sentimento bem diferente.
Sabe, o apego é como segurar com bastante força, mas o amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as coisas fluam. Não é ficar preso com força.
Quanto mais agarramos o outro com força, mais nós sofremos. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, por que elas pensam que quanto mais elas seguram alguém, mais isso demonstra que elas se importam com o outro.
Mas não é isso. Elas realmente estão apenas tentando prender algo porque elas têm medo de que se não for assim, elas é que acabaram se ferindo.
Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que poderemos ser preenchidos pelo outro, será certamente muito complicado.
Quer dizer que, idealmente as pessoas deveriam se unir já se sentindo preenchidas por si mesmas e ficarem juntas apenas para apreciarem isso no outro, em vez de esperar que o outro supra essa sensação de bem estar que elas não têm sozinhas. Isso gera vários problemas. E isso junto com toda a projeção que vem do romance, em que projetamos nossas idéias, ideais, desejos e fantasias românticas sobre os outros, algo que ele nunca será capaz de corresponder. Assim que começamos a conhecê-lo, reconhecemos que o outro não é príncipe encantado ou a Cinderela.
É apenas uma pessoa comum, também lutando.
E a menos que sejamos capazes de enxergá-las, gostar delas, e sentir desejo por elas, e também ter bondade amorosa e compaixão, se não, será um relacionamento muito difícil.”





Jetsunma Tenzin Palmo é uma monja no Budismo Tibetano.
Ela nasceu em Londres e aos 20 anos de idade mudou-se para a Índia para dar início a sua caminhada espiritual. Tornou-se uma das primeiras mulheres ocidentais a ser ordenada monja. Realizou a maior parte de sua prática espiritual em um pequeno monastério na cidade de Lahaul; buscando maior isolamento e melhores condições para a prática, encontrou uma caverna nas proximidades do mosteiro, onde permaneceu por mais de 12 anos, sendo que os três últimos foram em retiro restrito.
A pedido de seu Guru, Tenzin Palmo, iniciou um convento chamado Dongyu Gatsal Ling.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Poderes Incomuns

Muitas vezes pensamos que se aceitarmos as coisas da vida do jeito que elas são, estaremos nos acomodando ou não tomando nenhuma atitude sobre elas, ou ainda indo como a maré manda.
Acontece que é só quando aceitamos o que a vida traz para nós é que podemos estar mais plenos e mais em paz. Confiando no caminho que nos é traçado.
Devemos nos manter atentos sobre o rumo que estamos tomando, mas tentar manter tudo absolutamente consciente e sob o nosso controle, estaremos com toda certeza fadados ao fracasso.
Assumir o que somos, por inteiro, nos faz sentir melhor, mesmo que para isso tenhamos que pagar um preço alto.
É engraçado, mas parece que no momento em que nos aceitamos, com as partes boas e ruins, passamos a ressignificar algumas coisas e estar mais pleno de nós mesmos. A partir dai, nos conhecemos mais e tomamos contato com a preciosidade do eu. E é inevitável admirar essa valiosa “pedra preciosa”, de algum modo mágico ficamos mais fortes e mais situados.
Parece que podemos enfrentar um mar de batalhas e que mesmo que algo nos derrube, é verdadeiro. Não fomos desviados do caminho que tínhamos que seguir.
Para o bem, para o mal.

Adquirimos poderes incomuns.

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

"Todo amor é recíproco, mesmo quando não é correspondido" (Lacan)

Reproduzo aqui um pensamento de Jacques Allain Miller, um dos maiores comentadores de Jacques Lacan.
Curioso e profundo, o pensamento abaixo nos coloca novamente a pensar que é através da relação com o outro, nos "fazemos" e nos "produzimos".

Sobre a frase, Allain Miller, diz: “Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo- a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: ‘Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças’. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação”.

Se escrevermos alguma coisa agora, é possível abafar o vento que sopra.
O que a leitura acima causa não é da ordem das palavras.

domingo, 10 de agosto de 2014

Lágrimas: Processos Individuais

          O momento histórico em que vivemos não abre espaços para as vivências de dor. A todo o momento a felicidade é cultuada e a tristeza guardada a sete chaves no fundo do porão; tentamos passar o mais longe possível de tudo o que possa nos fazer sofrer. Grita-se aos ventos o quão feliz somos: será que convencendo aos outros, estamos tentando convencer a nós mesmos?
            O trabalho de se estar sempre em um dos polos da vida, na felicidade ou na tristeza, vai nos tornando cada vez mais rígidos e petrificados, como se não houvesse mais, ou como se não pudesse haver mais, espaço para o outro oposto. Como se pessoas muito tristes e deprimidas não tivesse mais espaço no coração para gotinhas de felicidade. Ou como se pessoas felizes, alegres e contentes não pudessem perder tempo chorando suas chateações.
Diz-se que o verdadeiro princípio de nosso trabalho como terapeuta é de dissolver a pedra, tornando mais fluidos e leves os processos individuais. Isso por que corpos dissolvidos assumem a natureza de espíritos, ou seja, com a “dissolução” do corpo, presenciamos a coagulação do espírito.
Como agente de dissolução, pensamos na água. E como parte do processo analítico, a “água” que é produzida dentro do consultório do analista, as lágrimas.
Segundo Capriotti (2008), o choro pode ter dois sentidos, a dissolução de resistências e de couraças rígidas, quando podemos nos demonstrar fluidos ou a dissolução de tudo sob a forma de lágrima, quando nos encharcamos e nos submergimos. Há o choro que lava, purifica e fertiliza, o choro que traz renascimento.
No choro vamos elaborando as nossas questões íntimas. Muitas vezes o chorar é ruim e amargo e uma vez que estamos tratando da dissolução de certezas. Porém, muitas vezes sentimos prazer no choro, dizemos “saí de alma lavada”. E saiu mesmo! As lágrimas tem a função de limpeza dos olhos, mas tem também a função de limpeza da alma (CAPRIOTTI, 2008).
Ainda segundo a mesma autora, citando Lutz (1999) nos traz: “não é que nossas emoções, sem encontrar saída na ação, são reduzidas a lágrimas, mas sim que certas emoções encontram sua saída perfeita nas lágrimas”.

 Aqueles que choram são os mais corajosos e bravos, aceitaram o desafio de encarar a vida como ela de fato é, cheia de alegrias, mas também de tristezas. Encararam seu processo individual, transformando seus muros em rios passageiros. 

CAPRIOTTI, L. Multiplicidade de Lágrimas: o choro e suas diferentes nuances. Cadernos Junguianos, São Paulo, n. 4, 2008. 


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Abra uma cerveja e aceite-se!

Nos fizeram acreditar que é só na companhia de alguém que podemos ser felizes.
Nos fizeram acreditar que ir no cinema sozinho é o cúmulo da solidão.
Nos fizeram acreditar que sair para dançar só, é obrigatoriamente um convite para que o sexo oposto se aproxime.
Nos fizeram acreditar que quando estamos a sós, devemos sentir medo.
Mas crescemos e percebemos que na verdade nosso caminho sempre foi solitário. Acordamos em nossa companhia e dormimos com ela, depois de passar o dia todo na presença do eu. Cada pensamento que temos é só nosso e compartilhamos apenas com aqueles que queremos.
Por que será que temos tanto medo de estar sozinhos, se na realidade nós já somos?
É claro que vivemos cercados de outras pessoas, sejam eles nossos pais, familiares, amigos, colegas. Mas falamos aqui da ânsia em achar um companheiro, como se isso fosse uma obrigação; caso contrário, você ficará para “titia” ou “titio”, e ah! Que vida triste a sua!
Me pergunto: estar com alguém por medo de estar só, me parece um pouco aprisionador, não?
Talvez só quando perdemos esse tal medo é que conseguimos nos relacionar plenamente e por inteiro com alguém, quando vivenciamos a nossa própria presença e começamos a nos sentir bem com ela. Eu na companhia de mim mesmo.
E ainda existe o velho ditado que todos nós conhecemos – antes de ser dois, é necessário ser um.
Convide-se para uma tarde de filmes, abra uma cerveja e aceite-se.

Um brinde! Viva!

domingo, 8 de junho de 2014

Caminho

Lá estava ele.
Imóvel.
O caminho de terra que antes andava e que já calejada seus pés, acabou. Já via ao longe que a estrada mudava de cor. De cheiro. Mas ainda não sabia o que era.
A estrada que ele julgava como discípula, pois pensava que era ele que escolhia seus caminhos. Se esquecia por vezes das palavras do professor: "De quando em quando, ao caminhar de cabeça baixa deixando o horizonte esquecido, é a estrada que guia seus passos."
Viva.
Chegou no ponto em que aquele solo já não era mais o mesmo. O ele que via e não via, o olhado de longe, chegou. Ele se abaixou para ter certeza que seus olhos não estavam mentindo. Passou as mãos suadas no corte onde começava a grama.
Achou estranho, pois como haveria de ter grama em um caminho que chovia pouco?
O caminho mudou e nem se deu conta.
Mas a estrada esta ai. Na verdade, foi ele que mudou.
Ainda parado, respirou o ar diferente de um caminho novo. Incerto. Cheio de possibilidades.
Deu um passo. Outro. Outro.
Novamente estava caminhando.
Atravessou.
Através.
Outra vez.


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ostra feliz não faz pérola!

Para que seguimos os nossos dias nos preocupando com o trabalho, as contas a pagar, com as metas a cumprir, com os prazos, notas, atividades, estudos? Inundados de todos os lados por cobranças, culpa, tristeza. Se não é no trabalho e na faculdade, é dor de vida, relacionamentos amorosos, escolhas da maturidade, conflitos com amigos.
Acho que a resposta para a maior parte dessas perguntas venha com a frase, como em casos de trabalho: “eu faço muito agora para que um dia fique tranquilo e livre de qualquer tipo de preocupação”, como se na adultez madura e velhice fossemos viver nossas merecidas “férias eternas”.
Tempos em que deixaria de existir – ou é nosso desejo de que deixe de existir – a correria, o vai e vem, o conflito, o stress. Há o desejo por um tempo de calmaria, sem tensão.
Se não existir nossa dor de alma, o que há afinal? Esse estado exacerbado de felicidade não há vida, somente existência.
Mas será que não é através do conflito que promovemos a transformação?
Parece que ‘esquecemos de lembrar’ que é da tensão, da dor, que surge a energia necessária para seguirmos com as tarefas da vida. A força da vida está na tensão que existe entre os opostos – dúvidas, escolhas - e que provocam dor! Não haveria de ser de outra maneira.
 Já dizia lindamente Rubem Alves, a ostra que vive sua vida completamente feliz, se acomoda, existe somente e não produz nada. É aquela ostra sofrida que possui uma areia pontiaguda que a cutuca, a machuca com suas arestas e pontas, que produz a pérola.
A ostra feliz, coitada, observa a jóia feita por aquela que não se entregou ao pessimismo, por aquela de foi capaz de transformar tragédia em beleza.




Alves, R. Ostra feliz não faz pérola. Planeta: 2008.

domingo, 6 de abril de 2014

Sombra

Jung nos deu uma definição bem clara de sombra: “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser”. Nesta frase estão incluídas as variadas referências à sombra como o lado negativo e obscuro da personalidade.
Às vezes queremos acreditar que não temos lados negros. Lutamos para não enxergar ou não admitir uma falha, um lado sem valor ou uma característica dada como desajustada. E não é fácil aceitarmos em nós mesmos lados que sempre julgamos como maus e que não queremos aceitar como parte de nós. Dói aceitarmos o que julgamos como ruim, ainda mais o que vem de dentro da gente.
Mas como podemos nos conhecer mais profundamente se nos recusarmos a olhar para essa parte escura? Se encararmos a sombra em nós temos a chance de torná-la consciente, torná-la parte do que somos.
Segundo Jung:
Todo mundo carrega uma sombra, e quanto menos ela está incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela é. Se uma inferioridade é consciente, sempre se tem uma oportunidade de corrigi-la. Além do mais, ela está constantemente em contato com outros interesses, de modo que está continuamente sujeita a modificações. Porém, se é reprimida e isolada da consciência, jamais é corrigida, e pode irromper subitamente em um momento de inconsciência. De qualquer modo, forma um obstáculo inconsciente, impedindo nossos mais bem-intencionados propósitos (CW11, § 131).

            O processo de rejeitarmos a sombra é que a torna inferior e desadaptada. O fato de nossas características sombrias serem vivenciadas de forma pouco intensa pelo consciente é o que impede seu desenvolvimento.
            Coragem para enfrentar a escuridão. 





"Uma pessoa não se torna iluminada ao imaginar formas luminosas, mas sim ao tornar consciente a escuridão. Esse último procedimento, no entanto, é desagradável e, portanto, impopular.” (Jung)


sexta-feira, 7 de março de 2014

Reflexões Femininas

           Pergunte a qualquer mulher que conheça: Quais são as suas ocupações? Tenho certeza que poucas são as que elencarão apenas 1 ou 2 atividades. As mulheres de hoje são capazes. As mulheres de hoje são corajosas. As mulheres de hoje são vorazes.
            É claro que notamos que na virada do século, houveram muitas outras “viradas”. E redijo uma delas aqui: a virada do mundo feminino. Antes as mulheres eram aquelas que colhiam raízes e cuidavam da horta, enquanto os homens saíam para caçar. Depois cuidavam do lar e das crianças, enquanto os homens trabalhavam para ganhar o sustento da casa. Hoje as mulheres cuidam do lar e das crianças como antes, mas também dirigem, trabalham, se exercitam, tomam decisões, marcam reuniões, fazem, atuam, dizem, ... O acúmulo de papéis desempenhados pela mulher é muito maior, mas engana-se quem acha que está ai o grande desafio. Na verdade, o desafio está em acharmos novamente a nossa essência feminina, pois com essa confusão o feminino também se perdeu.
            Observamos não em todas, mas na maioria, mulheres-homens, que esqueceram e afogaram o lado feminino em prol de exercer o lado prático da vida. Transformam-se em mulheres inescrupulosas, brutais, grosseiras e superenérgicas.  Não digo que o que fazemos hoje não seja necessário, mas talvez tenhamos perdido a mão de como fazer. O lado masculino na mulher (chamado na Psicologia Analítica de Animus) causa opiniões categóricas e rígidas demais, críticas aos outros e a ela mesma.
            A mulher precisa estar consciente de que há algo funcionando de maneira inadequada e tomar consciência da atuação deste “homem em si mesma” e diferenciá-lo de si própria, caso contrário continuará possuída por opiniões e humores.
            A relação com o masculino positivo proporciona a capacidade de focalização e de conexão, pode ser uma fonte de encorajamento, contenção e proteção (Bourscheid, n/d).
            É preciso gestar as qualidades e características femininas, como a paciência, a entrega, a sensibilidade, a segurança, a afetividade, e por essência feminina, o nutrir e o acolher. O desprezo por essas características femininas tornam as mulheres “workaholics” e guerreiras sem escrúpulos.
            Há aí o desafio de que falamos: viver a vida prática com tudo o que ela nos exige, porém de uma outra maneira. Vivenciar e nos reconectar com o valor do feminino parece ser o X da questão.




Fonte: 
A mulher do século XXI: Rumo à redescoberta do feminino - por Rafaella Bourscheid

(em: www.ijrs.org.br/includes/_incDownload.php?arquivo=arq...1.pd)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.

Acho que os tempos de agora são os tempos do intelecto. Tempos em que tentamos (e algumas vezes conseguimos), mensurar, medir, analisar as hipóteses e calcular para prever quase que absolutamente tudo o que conseguirmos. Tentamos explicar racionalmente o máximo de coisas possíveis.
O que é isso? Controle? Medo do desconhecido?
            Encontramos a intelectualização também dentro do consultório. Por vezes temos vontade (e fazemos muitas vezes!) de devorar livros técnicos, buscando o mais rápido possível aprender e memorizar os inúmeros conceitos que existem. Para que assim que tivermos aprendido tudo, estarmos prontos para atender.
            Retomando minha leitura do livro “A Voz e o Tempo – Reflexões para Jovens Terapeutas” de Roberto Gambini, pude me deparar com um exemplo pessoal do autor.
            Ele conta que quando começou a fazer análise, ele queria aplicar o intelecto ao trabalho analítico. Ele achou por bem montar um fichário de símbolos por ordem alfabética. Ou seja, ele começou a organizar as palavras, começando por “Abacate”, e a colocar em cada uma das páginas quais os livros e em quais páginas ele poderia achar o significado desta fruta; com isso teria elementos suficientes para entender o simbolismo de tal palavra. Porém, ele conta que acabou desistindo da ideia por perceber que sua mente era muito mais criativa e rápida do que tal arquivamento sistemático.
            Mas ele descobriu outra coisa, uma muito mais bonita e muito mais eficaz. Gambini diz que quando se está sintonizado com a compreensão do simbolismo, que o arquivo interno está lá pronto para ser usado e que ao estarmos remoendo algum sonho simbólico, aquilo que precisamos lembrar vem sozinho!  Ele diz: “O que for necessário lembrar aparecerá para que o propósito – não o esforço – de compreender o sonho se realize.” Em uma passagem, ele exemplifica:
“É preciso arejar um pouco esse arquivo e saber que essa área é fundamental para o treino do analista. Assim como o pianista tem que treinar a agilidade dos dedos, o bailarino a da musculatura dos braços e pernas, o poeta a das palavras, nós temos que treinar a compreensão. Precisamos saber ler, não academicamente, mas psiquicamente, quer dizer, você vai vendo as coisas passarem por perto e conversarem com você. E tudo isso é um treino para o ofício, para aquela hora em que o que foi assimilado tem que funcionar para se poder lidar com o sofrimento alheio, não é para acumular erudição.” (Gambini, p.88).

Acho que às vezes deveríamos ser mais humanos e menos cérebros.
Finalizo aqui, citando uma frase muito pertinente e muito famosa de C. G. Jung:

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A Dificuldade da Aceitação

Aceitar-nos é uma tarefa bastante difícil, mas é um trabalho mais do que necessário!
É somente quando nos aceitamos que podemos ter com o outro uma relação completa. Precisamos crescer com dúvidas e nos questionando sempre se o modo como estamos lidando com as coisas está sendo distorcido pelo nosso “jeito” de olhar. Ao longo da nossa história vamos aos poucos deixando de olhar as coisas como são de fato, ou seja, ao mesmo tempo boas e ruins. Queremos dividir o bom e o mau. Que bobagem!
Será que só quando aceitamos a maldade e a bondade juntas é que podemos conhecer algo por completo? Pois do contrário, estamos lidando apenas com uma parte, um pedaço dele? Tendo conhecimento da totalidade e uma visão mais completa, assumimos uma atitude muito mais concreta.
Existe uma passagem da qual nunca me esqueço. Que além de linda, é muito profunda.
Ai está ela:

A partir do mal, muita coisa boa me aconteceu. Conservando-me tranquila, não reprimindo nada, permanecendo atenda e aceitando a realidade - tomando as coisas como elas são e não como eu queria que fossem - ao fazer tudo isso ganhei um conhecimento incomum, e poderes incomuns também, como jamais imaginara que pudesse me acontecer. Eu sempre pensara que, quando aceitamos as coisas, elas nos sobrepujam e dominam de um modo ou de outro. Acontece que isso não é absolutamente verdade e que só aceitado-as é que podemos assumir uma atitude em relação a elas. Assim, pretendo agora fazer o jogo da vida, ser receptiva para tudo o que vier, bom e mal, sol e sombra alternando-se para sempre e deste modo aceitar também a minha própria natureza com seus lados positivos e negativos. Assim, tudo adquire mais vida para mim. Que tola eu era! Como tentei forçar tudo a acontecer de acordo com o modo que eu achava que devia ser!"  (Stein, 2012, p. 112)

Tentamos a todo tempo, como diz acima, forçar as coisas a serem e se comportarem do jeito que gostaríamos que elas fossem. Mas será que assim não estamos enganando a nós mesmos? Acho que deste modo nos “auto sabotamos” o tempo todo, não?
Sejamos verdadeiros! Por mais de doa, que machuque. 
Para mim a verdade sempre foi mais forte do que a ilusão.