A monja Tenzin Palmo dialoga e descreve de forma bastante
bonita o quanto nós, em nossas relações, confundimos a idéia de amor com apego.
Diz que talvez a maioria de nós nunca tenha amado de
verdade, que a maioria dos sentimentos que temos pelos outros é apenas uma
forma de apego.
Quando conhecemos alguém, primeiro projetamos nessa
pessoa toda a maravilha e os sonhos que existem em nós mesmos. Na realidade
começamos a nos apaixonar pela imagem que fizemos desta pessoa e não por ela
realmente. Com o passar do tempo nos tornamos próximos e conhecemos de fato
aquilo que o outro é. E é ai que começam os problemas.
Esperamos que o outro supra todo o bem estar e a
felicidade que esperamos, como se isso fosse responsabilidade dele. Queremos
que o outro nos faça feliz, esquecendo que “ser feliz” é uma condição pessoal,
ou seja, que apenas nós mesmos podemos causar em nós.
Tenzin conta que a relação fica difícil quando esperamos
que o outro esteja lá por nós, que nos faça pleno e seguros. Prendemos alguém
achando que é esta a forma correta de demonstrar o quanto nos importamos,
esquecendo que desta maneira estamos apenas mostrando o tamanho do nosso próprio
medo de sofrer.
De forma simples e cativante, a monja fala sobre o nosso
egoísmo e imaturidade diante de um sentimento tão completo que é o amor.
“O problema é que nós sempre confundimos a ideia de amor,
com apego.
Sabe, nós imaginamos que o apego e o agarramento que temos
em nossas relações demonstram que amamos, quando na verdade é apenas apego, que
causa dor.
Porque quanto mais nos pegamos, mais temos medo de
perder. E então, se de fato perdemos, vamos sofrer.
O apego diz: 'Eu te amo, por isso quero que você me faça
feliz'.
E o amor genuíno diz: 'Eu te amo, então quero que você
seja feliz. Se isso me incluir ótimo, se não me incluir, eu só quero que você
seja feliz'.
É, portanto, um sentimento bem diferente.
Sabe, o apego é como segurar com bastante força, mas o
amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as
coisas fluam. Não é ficar preso com força.
Quanto mais agarramos o outro com força, mais nós
sofremos. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, por que elas
pensam que quanto mais elas seguram alguém, mais isso demonstra que elas se
importam com o outro.
Mas não é isso. Elas realmente estão apenas tentando
prender algo porque elas têm medo de que se não for assim, elas é que acabaram
se ferindo.
Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que
poderemos ser preenchidos pelo outro, será certamente muito complicado.
Quer dizer que, idealmente as pessoas deveriam se unir já
se sentindo preenchidas por si mesmas e ficarem juntas apenas para apreciarem
isso no outro, em vez de esperar que o outro supra essa sensação de bem estar
que elas não têm sozinhas. Isso gera vários problemas. E isso junto com toda a
projeção que vem do romance, em que projetamos nossas idéias, ideais, desejos e
fantasias românticas sobre os outros, algo que ele nunca será capaz de
corresponder. Assim que começamos a conhecê-lo, reconhecemos que o outro não é
príncipe encantado ou a Cinderela.
É apenas uma pessoa comum, também lutando.
E a menos que sejamos capazes de enxergá-las, gostar
delas, e sentir desejo por elas, e também ter bondade amorosa e compaixão, se
não, será um relacionamento muito difícil.”
Jetsunma Tenzin Palmo é uma monja no
Budismo Tibetano.
Ela nasceu em Londres e aos 20 anos de
idade mudou-se para a Índia para dar início a sua caminhada espiritual.
Tornou-se uma das primeiras mulheres ocidentais a ser ordenada monja. Realizou
a maior parte de sua prática espiritual em um pequeno monastério na cidade de
Lahaul; buscando maior isolamento e melhores condições para a prática,
encontrou uma caverna nas proximidades do mosteiro, onde permaneceu por mais de
12 anos, sendo que os três últimos foram em retiro restrito.
A pedido de seu Guru, Tenzin Palmo,
iniciou um convento chamado Dongyu Gatsal Ling.