Acho que os tempos de agora são os tempos do intelecto.
Tempos em que tentamos (e algumas vezes conseguimos), mensurar, medir, analisar
as hipóteses e calcular para prever quase que absolutamente tudo o que
conseguirmos. Tentamos explicar racionalmente o máximo de coisas possíveis.
O que é isso? Controle? Medo do desconhecido?
Encontramos
a intelectualização também dentro do consultório. Por vezes temos vontade (e
fazemos muitas vezes!) de devorar livros técnicos, buscando o mais rápido
possível aprender e memorizar os inúmeros conceitos que existem. Para que assim
que tivermos aprendido tudo, estarmos prontos
para atender.
Retomando
minha leitura do livro “A Voz e o Tempo – Reflexões para Jovens Terapeutas” de
Roberto Gambini, pude me deparar com um exemplo pessoal do autor.
Ele
conta que quando começou a fazer análise, ele queria aplicar o intelecto ao
trabalho analítico. Ele achou por bem montar um fichário de símbolos por ordem
alfabética. Ou seja, ele começou a organizar as palavras, começando por
“Abacate”, e a colocar em cada uma das páginas quais os livros e em quais
páginas ele poderia achar o significado desta fruta; com isso teria elementos
suficientes para entender o simbolismo de tal palavra. Porém, ele conta que
acabou desistindo da ideia por perceber que sua mente era muito mais criativa e
rápida do que tal arquivamento sistemático.
Mas ele
descobriu outra coisa, uma muito mais bonita e muito mais eficaz. Gambini diz
que quando se está sintonizado com a compreensão do simbolismo, que o arquivo
interno está lá pronto para ser usado e que ao estarmos remoendo algum sonho
simbólico, aquilo que precisamos lembrar vem sozinho! Ele diz: “O que for necessário lembrar
aparecerá para que o propósito – não o esforço – de compreender o sonho se
realize.” Em uma passagem, ele exemplifica:
“É preciso arejar um pouco esse arquivo e
saber que essa área é fundamental para o treino do analista. Assim como o
pianista tem que treinar a agilidade dos dedos, o bailarino a da musculatura
dos braços e pernas, o poeta a das palavras, nós temos que treinar a
compreensão. Precisamos saber ler, não academicamente, mas psiquicamente, quer
dizer, você vai vendo as coisas passarem por perto e conversarem com você. E
tudo isso é um treino para o ofício, para aquela hora em que o que foi
assimilado tem que funcionar para se poder lidar com o sofrimento alheio, não é
para acumular erudição.” (Gambini, p.88).
Acho que às vezes deveríamos ser mais humanos
e menos cérebros.
Finalizo aqui, citando uma frase muito
pertinente e muito famosa de C. G. Jung:
“Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”