domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.

Acho que os tempos de agora são os tempos do intelecto. Tempos em que tentamos (e algumas vezes conseguimos), mensurar, medir, analisar as hipóteses e calcular para prever quase que absolutamente tudo o que conseguirmos. Tentamos explicar racionalmente o máximo de coisas possíveis.
O que é isso? Controle? Medo do desconhecido?
            Encontramos a intelectualização também dentro do consultório. Por vezes temos vontade (e fazemos muitas vezes!) de devorar livros técnicos, buscando o mais rápido possível aprender e memorizar os inúmeros conceitos que existem. Para que assim que tivermos aprendido tudo, estarmos prontos para atender.
            Retomando minha leitura do livro “A Voz e o Tempo – Reflexões para Jovens Terapeutas” de Roberto Gambini, pude me deparar com um exemplo pessoal do autor.
            Ele conta que quando começou a fazer análise, ele queria aplicar o intelecto ao trabalho analítico. Ele achou por bem montar um fichário de símbolos por ordem alfabética. Ou seja, ele começou a organizar as palavras, começando por “Abacate”, e a colocar em cada uma das páginas quais os livros e em quais páginas ele poderia achar o significado desta fruta; com isso teria elementos suficientes para entender o simbolismo de tal palavra. Porém, ele conta que acabou desistindo da ideia por perceber que sua mente era muito mais criativa e rápida do que tal arquivamento sistemático.
            Mas ele descobriu outra coisa, uma muito mais bonita e muito mais eficaz. Gambini diz que quando se está sintonizado com a compreensão do simbolismo, que o arquivo interno está lá pronto para ser usado e que ao estarmos remoendo algum sonho simbólico, aquilo que precisamos lembrar vem sozinho!  Ele diz: “O que for necessário lembrar aparecerá para que o propósito – não o esforço – de compreender o sonho se realize.” Em uma passagem, ele exemplifica:
“É preciso arejar um pouco esse arquivo e saber que essa área é fundamental para o treino do analista. Assim como o pianista tem que treinar a agilidade dos dedos, o bailarino a da musculatura dos braços e pernas, o poeta a das palavras, nós temos que treinar a compreensão. Precisamos saber ler, não academicamente, mas psiquicamente, quer dizer, você vai vendo as coisas passarem por perto e conversarem com você. E tudo isso é um treino para o ofício, para aquela hora em que o que foi assimilado tem que funcionar para se poder lidar com o sofrimento alheio, não é para acumular erudição.” (Gambini, p.88).

Acho que às vezes deveríamos ser mais humanos e menos cérebros.
Finalizo aqui, citando uma frase muito pertinente e muito famosa de C. G. Jung:

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”