segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Confundimos a idéia de amor

A monja Tenzin Palmo dialoga e descreve de forma bastante bonita o quanto nós, em nossas relações, confundimos a idéia de amor com apego.
Diz que talvez a maioria de nós nunca tenha amado de verdade, que a maioria dos sentimentos que temos pelos outros é apenas uma forma de apego.
Quando conhecemos alguém, primeiro projetamos nessa pessoa toda a maravilha e os sonhos que existem em nós mesmos. Na realidade começamos a nos apaixonar pela imagem que fizemos desta pessoa e não por ela realmente. Com o passar do tempo nos tornamos próximos e conhecemos de fato aquilo que o outro é. E é ai que começam os problemas.
Esperamos que o outro supra todo o bem estar e a felicidade que esperamos, como se isso fosse responsabilidade dele. Queremos que o outro nos faça feliz, esquecendo que “ser feliz” é uma condição pessoal, ou seja, que apenas nós mesmos podemos causar em nós.
Tenzin conta que a relação fica difícil quando esperamos que o outro esteja lá por nós, que nos faça pleno e seguros. Prendemos alguém achando que é esta a forma correta de demonstrar o quanto nos importamos, esquecendo que desta maneira estamos apenas mostrando o tamanho do nosso próprio medo de sofrer.

De forma simples e cativante, a monja fala sobre o nosso egoísmo e imaturidade diante de um sentimento tão completo que é o amor.

“O problema é que nós sempre confundimos a ideia de amor, com apego.
Sabe, nós imaginamos que o apego e o agarramento que temos em nossas relações demonstram que amamos, quando na verdade é apenas apego, que causa dor.
Porque quanto mais nos pegamos, mais temos medo de perder. E então, se de fato perdemos, vamos sofrer.
O apego diz: 'Eu te amo, por isso quero que você me faça feliz'.
E o amor genuíno diz: 'Eu te amo, então quero que você seja feliz. Se isso me incluir ótimo, se não me incluir, eu só quero que você seja feliz'.
É, portanto, um sentimento bem diferente.
Sabe, o apego é como segurar com bastante força, mas o amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as coisas fluam. Não é ficar preso com força.
Quanto mais agarramos o outro com força, mais nós sofremos. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, por que elas pensam que quanto mais elas seguram alguém, mais isso demonstra que elas se importam com o outro.
Mas não é isso. Elas realmente estão apenas tentando prender algo porque elas têm medo de que se não for assim, elas é que acabaram se ferindo.
Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que poderemos ser preenchidos pelo outro, será certamente muito complicado.
Quer dizer que, idealmente as pessoas deveriam se unir já se sentindo preenchidas por si mesmas e ficarem juntas apenas para apreciarem isso no outro, em vez de esperar que o outro supra essa sensação de bem estar que elas não têm sozinhas. Isso gera vários problemas. E isso junto com toda a projeção que vem do romance, em que projetamos nossas idéias, ideais, desejos e fantasias românticas sobre os outros, algo que ele nunca será capaz de corresponder. Assim que começamos a conhecê-lo, reconhecemos que o outro não é príncipe encantado ou a Cinderela.
É apenas uma pessoa comum, também lutando.
E a menos que sejamos capazes de enxergá-las, gostar delas, e sentir desejo por elas, e também ter bondade amorosa e compaixão, se não, será um relacionamento muito difícil.”





Jetsunma Tenzin Palmo é uma monja no Budismo Tibetano.
Ela nasceu em Londres e aos 20 anos de idade mudou-se para a Índia para dar início a sua caminhada espiritual. Tornou-se uma das primeiras mulheres ocidentais a ser ordenada monja. Realizou a maior parte de sua prática espiritual em um pequeno monastério na cidade de Lahaul; buscando maior isolamento e melhores condições para a prática, encontrou uma caverna nas proximidades do mosteiro, onde permaneceu por mais de 12 anos, sendo que os três últimos foram em retiro restrito.
A pedido de seu Guru, Tenzin Palmo, iniciou um convento chamado Dongyu Gatsal Ling.