Uma jovem decidiu falar abertamente sobre seu sofrimento diante a depressão e ansiedade que vem vivendo "desde que se conhece por gente".
Celine, de 19 anos, nos conta um pouquinho como vem sendo seu dia a dia, para que assim, segundo suas palavras, possa tornar a discussão sobre doença mental cada vez mais presente e acolher aqueles que sofrem dela minimizando cada vez mais os estigmas negativos.
Leia o texto na íntegra do artigo feito pela BBC:
A britânica Celine, de 19 anos, sofre de depressão
e ansiedade.
Ela faz parte de um universo de 80 mil crianças e
jovens com os mesmos distúrbios mentais no Reino Unido.
Recentemente, um de seus posts no Facebook - em que
ela conta como enfrenta o problema - recebeu o apoio de milhares de usuários na
rede social.
Celine passou a registrar em fotos o seu estado de
espírito por acreditar que isso lhe ajuda a encarar a depressão de frente.
Na série de selfies publicada no Facebook, Celine
pode ser vista em diferentes e contrastantes estados de espírito.
Em entrevista à BBC, ela diz que seu objetivo é
inspirar outras pessoas a discutir abertamente os problemas ligados à saúde mental.
Confira o relato de Celine abaixo.
"Desde que me conheço por gente, me sinto
infeliz, desmotivada, malsucedida, com pensamentos horríveis passando pela
minha cabeça.”
As pessoas dizem que não é possível ver a saúde
mental a olho nu, mas eu discordo. Minhas fotos revelam a deterioração da minha
saúde mental.
A minha saúde mental pode ser vista de diferentes
formas, do cabelo que deixei de pentear, na falta de maquiagem, etc. Afinal de
contas, por que eu me importaria com isso?
Também pode ser observada no meu sorriso, em todas
as quatro fotos, que se torna pouco a pouco um grito de ajuda.
Como pode ser possível uma pessoa como eu ser tão
infeliz na vida? Tenho dois cavalos lindos que tiveram um papel significativo
em me ajudar a enfrentar minha depressão e ansiedade, entre outros problemas.
Meus pais sempre foram mais do que generosos e me
apoiam de toda a forma possível.
Apesar disso, me sentia incompleta. Para mim, em
algumas manhãs era impossível sair da cama porque, no fim das contas, qual era
a finalidade? Não havia propósito.
Já tive pessoas gritando comigo e dizendo:
"Levante-se!" ou "Pare de ser preguiçosa!", mas a verdade é
que, para qualquer um que já passou por algo similar, não é fácil. E nos dias
em que consigo sair da cama, sinto que mereço uma medalha de ouro.
Quando estava no meu ponto mais baixo, não só me
sentia triste, mas comecei a ter problemas em situações simples.
Tudo começou quando tive de falar em público quando
era muito nova. Faltava à escola até que acabei deixando de frequentá-la
completamente.
'Sem chão'
Em outras ocasiões, uma simples risada dentro de um
supermercado era o suficiente para me causar uma angústia tremenda porque
achava que pessoas desconhecidas estavam rindo de mim.
Se, por exemplo, percebesse que uma pessoa estava
me observando, achava que era porque estava gorda.
Dessa forma, me olhar no espelho fazia com que me
sentisse para baixo porque nunca conseguiria ter um corpo perfeito, o corpo que
as meninas hoje em dia tentam de todas as formas alcançar.
Isso se tornou uma fonte tão grande de estresse que
perdi peso nos últimos meses.
E acabou afetando as coisas de que eu gostava. Não
podia mais cavalgar porque sentia que não era boa o bastante - na verdade,
achava que era péssima e decepcionava meu cavalo. Colocava muita pressão sobre
mim mesma antes de uma apresentação, o tipo de pressão que eu não via nem em um
atleta olímpico.
Ninguém merece sentir-se dessa forma. Ninguém
merece sentir-se como se não pudesse fazer alguma coisa ou não fosse bom o
bastante.
Quando rompi com meu namorado no ano passado, senti
como se tivesse perdido tudo, pouco a pouco. Desisti de usar maquiagem e fui
acometida de uma tristeza profunda. Não tinha motivação para nada.
Fui ver um psicólogo, mas ele disse que eu estava
sendo melodramática.
Quando comecei a universidade, foi outro grande
estresse. Algumas vezes, olhava para mim mesma no espelho e pensava, 'não posso
mais fazer isso'.
Apoio
Durante meu tratamento mais recente, os médicos
conversavam comigo como se meus problemas fossem completamente normais.
Tenho recebido todo o tipo de apoio, desde sessões
individuais a terapia em grupo, e todo mundo aqui (hospital) conversa um com o
outro sobre seus problemas.
Conheci muitas pessoas que sofrem dos mesmos
problemas, mas nunca saberia disso se não tivesse falado com elas.
Foi um alívio muito grande saber que não estava
sozinha. Depois de muito tempo, percebi que outras pessoas tinham os mesmos
pensamentos, os mesmos estresses, as mesmas preocupações que eu.
Não é vergonha acordar e tomar um comprimido que
fará com que você aproveite seu dia a dia. E ter alguém com quem você possa
conversar, que possa ouvir seus problemas, faz com que você tire um peso enorme
das suas costas.
O cérebro é um órgão como qualquer outro. Você não
pensa duas vezes antes de tomar paracetamol para curar uma ressaca, então por
que você vai pensar duas vezes antes de tomar um comprimido que vai fazer você
se sentir melhor?
Sem
constrangimento
Hoje, falo abertamente que tenho problemas de saúde
mental. Vou sair disso mais forte no final e aproveitar o resto da minha vida.
Não há qualquer constrangimento nisso. As pessoas
precisam parar de se preocupar se são fortes o suficiente para dizer 'preciso
de ajuda', porque ficam com medo de serem taxadas de loucas.
Eu mesma já fui chamada de doida, psicótica,
parafuso a menos... mas são nessas situações em que você percebe quem são seus
verdadeiros amigos.
Sou eternamente grata ao hospital pela ajuda, e
pelo apoio de meus amigos maravilhosos e da minha família, que não me julgam ou
me tratam diferente de outras pessoas.
Meu nome é Celine, tenho 19 anos e sou estudante de
Direito na Universidade de Hull, na Inglaterra. Falo dois idiomas e tenho um
cavalo lindo. E sofro de doenças mentais.
Referências:
http://www.bbc.com/portuguese/geral-39220271