Para que seguimos os nossos dias nos
preocupando com o trabalho, as contas a pagar, com as metas a cumprir, com os
prazos, notas, atividades, estudos? Inundados de todos os lados por cobranças,
culpa, tristeza. Se não é no trabalho e na faculdade, é dor de vida,
relacionamentos amorosos, escolhas da maturidade, conflitos com amigos.
Acho que a resposta para a maior parte dessas
perguntas venha com a frase, como em casos de trabalho: “eu faço muito agora
para que um dia fique tranquilo e livre de qualquer tipo de preocupação”, como
se na adultez madura e velhice fossemos viver nossas merecidas “férias
eternas”.
Tempos em que deixaria de existir – ou é
nosso desejo de que deixe de existir – a correria, o vai e vem, o conflito, o
stress. Há o desejo por um tempo de calmaria, sem tensão.
Se não existir nossa dor de alma, o que há
afinal? Esse estado exacerbado de felicidade não há vida, somente existência.
Mas será que não é através do conflito que
promovemos a transformação?
Parece que ‘esquecemos de lembrar’ que é da
tensão, da dor, que surge a energia necessária para seguirmos com as tarefas da
vida. A força da vida está na tensão que existe entre os opostos – dúvidas, escolhas
- e que provocam dor! Não haveria de ser de outra maneira.
Já
dizia lindamente Rubem Alves, a ostra que vive sua vida completamente feliz, se
acomoda, existe somente e não produz nada. É aquela ostra sofrida que possui
uma areia pontiaguda que a cutuca, a machuca com suas arestas e pontas, que
produz a pérola.
A ostra feliz, coitada, observa a jóia feita por
aquela que não se entregou ao pessimismo, por aquela de foi capaz de
transformar tragédia em beleza.
Alves, R. Ostra feliz não faz pérola. Planeta: 2008.