segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ostra feliz não faz pérola!

Para que seguimos os nossos dias nos preocupando com o trabalho, as contas a pagar, com as metas a cumprir, com os prazos, notas, atividades, estudos? Inundados de todos os lados por cobranças, culpa, tristeza. Se não é no trabalho e na faculdade, é dor de vida, relacionamentos amorosos, escolhas da maturidade, conflitos com amigos.
Acho que a resposta para a maior parte dessas perguntas venha com a frase, como em casos de trabalho: “eu faço muito agora para que um dia fique tranquilo e livre de qualquer tipo de preocupação”, como se na adultez madura e velhice fossemos viver nossas merecidas “férias eternas”.
Tempos em que deixaria de existir – ou é nosso desejo de que deixe de existir – a correria, o vai e vem, o conflito, o stress. Há o desejo por um tempo de calmaria, sem tensão.
Se não existir nossa dor de alma, o que há afinal? Esse estado exacerbado de felicidade não há vida, somente existência.
Mas será que não é através do conflito que promovemos a transformação?
Parece que ‘esquecemos de lembrar’ que é da tensão, da dor, que surge a energia necessária para seguirmos com as tarefas da vida. A força da vida está na tensão que existe entre os opostos – dúvidas, escolhas - e que provocam dor! Não haveria de ser de outra maneira.
 Já dizia lindamente Rubem Alves, a ostra que vive sua vida completamente feliz, se acomoda, existe somente e não produz nada. É aquela ostra sofrida que possui uma areia pontiaguda que a cutuca, a machuca com suas arestas e pontas, que produz a pérola.
A ostra feliz, coitada, observa a jóia feita por aquela que não se entregou ao pessimismo, por aquela de foi capaz de transformar tragédia em beleza.




Alves, R. Ostra feliz não faz pérola. Planeta: 2008.