segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Auto-responsabilidade pela bagunça: o bem e o mal em mim.

           Uma das grandes conquistas do mundo infantil é aprender a dizer não. Antes, ainda bebês, não tínhamos essa consciência. Nossos pais nos levavam para onde queriam, colocavam as roupas que queriam e nos alimentavam da maneira que queriam. Vamos crescendo e ao nos tornarmos adultos, aprendendo a negar aquilo que não nos agrada, separamos aquilo que gostamos e queremos para nós, daquilo que queremos manter longe.
            Parte desse processo faz com que o indivíduo se identifique com um lado e deixe o outro de lado, é importante que essa identificação seja com o lado bom, mas falaremos disso daqui a pouco. O que quero dizer é que a partir dessa separação, uma sombra vai sendo criada, um lugar depositário daquilo que nós não identificamos como nosso. Vemo-nos como apenas sob um aspecto e todo o resto está fora de mim.
            Ao longo do desenvolvimento psíquico, essa sombra, que antes era identificada como algo fora de nós, passa a se aproximar e ser encontrada em uma realidade interna e acabamos confrontados pelo problema dos opostos.
            Talvez a primeira grande e crucial divisão venha dos opostos bem e mal. É de muita importância que o lado do bem tenha um peso maior para nós do que o lado do mau. Para nossa sobrevivência e a sobrevivência do nosso ego, o bem precisa ocupar um lugar maior na nossa psique do que o mal. Ou seja, vamos nos enxergando como detentores do bem e todo o mal está lá fora, em algo ou alguém. Acaba-se criando um mecanismo de dar um lugar específico para a maldade.
            Ao perceber que os dois lados habitam em nós passamos a ter a capacidade de, aos poucos, ir assumindo responsabilidade por esse mal. Pelo nosso mal. Esse funcionamento nos torna mais consciente, pois não nos identificamos com apenas um dos lados, mas sim com a tensão que se coloca entre esses opostos. Esse é um mecanismo gerador de consciência, como diz Edinger (2008): “Sempre que somos tomados por uma identificação com um dos lados dos opostos beligerantes, perdemos, nesse instante pelo menos, a possibilidade de sermos um portador de opostos. Ao invés disso nos tornamos uma das pedras moedeiras de Deus que tritura o nosso destino. Nessas horas, ainda colocamos o inimigo para fora de nós e, assim fazendo, somos apenas uma partícula.”
            Claro que essa não é uma tarefa fácil, mas um divisor de águas para aqueles que tem a sede de se aprofundar. Edinger (2008), ainda coloca que ser sempre o vencedor não é bom psicologicamente, pois não experimentamos o outro lado da polaridade, o que nos deixa superficiais. Diz ele que a derrota é o portão para o inconsciente. Todas as pessoas profundas já conheceram a derrota e ela é parte fundamental dessa experiência dos opostos.

            A derrota ou o lado mal está em mim, mas não sou ele. Ele é parte de um todo onde existe o bem também. Isso me faz mais completo e mais inteiro.




Referências:
Edinger, E. O Mistério da Coniunctio. São Paulo: Paulus, 2008.